Crise hidrica no Espírito Santo. Novos municípios devem racionar água, como já ocorre em 17 cidades
- A GAZETA
- 18 de ago. de 2016
- 4 min de leitura
Os capixabas vão viver pelo menos mais dois meses de completa seca e estiagem. A previsão de chuvas fortes e frequentes é apenas para o mês de outubro. Por causa disso, novas localidades devem começar a racionar água, como já acontece em 17 municípios no Estado.
O cenário assusta cidades que se encontram em situação extremamente crítica em relação ao abastecimento. Em junho, Linhares passou a integrar a lista de municípios em racionamento. Itaguaçu fez o mesmo na semana passada.

Por causa do baixo volume de chuvas, o estado de alerta no Espírito Santo foi prorrogado por mais 90 dias pela Agência Estadual de Recursos Hídricos (Agerh). A queda foi de 50% em relação ao mesmo período do ano passado. “Estamos atravessando a maior crise hídrica do Espírito Santo. Se não chover, mais municípios podem entrar em racionamento”, destacou o presidente da Agerh, Paulo Paim.
Atualmente, 20 municípios estão em situação extremamente crítica, ou seja, o volume de água disponível não atende a demanda da população. A maioria deles está na região Norte e Noroeste do Estado. Outros 17 já estão racionando água, deixando mais de 263 mil pessoas prejudicadas, segundo levantamento feito em junho por A GAZETA.

O cenário, contudo, só deve mudar em outubro, quando estão previstas chuvas volumosas e frequentes. “Isto não quer dizer que não vai chover até lá, mas nada que consiga reverter o problema da seca. Para isso, é necessário uma frequência e volume alto de água”, destacou a meteorologista Josélia Pegorim, do Climatempo.
A expectativa deixa os municípios ainda mais vulneráveis. Os que se encontram extremamente críticos podem entrar em racionamento a qualquer momento, como é o caso de Itarana. O diretor do Saae no município, Amado Silva, já fez o alerta: “Se dentro de 15 dias não chover, vamos entrar em racionamento”, disse.
A situação é parecida com Itaguaçu, que começou a racionar água na semana passada. Ambos captam água na bacia do Rio Santa Joana, que está com níveis de vazão muito baixos. “As nascentes estão secando e o abastecimento ficando cada vez mais comprometido”, desabafou Amado.
Nos municípios em que já ocorre racionamento, a situação pode se agravar ainda mais. Em Marilândia, já são 10 meses racionando água e sem perspectiva de mudanças. Com a expectativa de chuvas só para daqui a dois meses, a cidade pode ficar sem água para abastecer a população, de acordo com o diretor do Saae, Wagner Lorencini.
“A gente já está revezando dois dias sem água para um dia abastecido. A bomba só é ligada à noite. Se não chover até setembro, ficaremos sem possibilidade de abastecer Marilândia”, frisou.
Se não chover, cidades não sabem o que fazer

Apesar da preocupação com a chegada de chuvas só para o mês de outubro, a possibilidade dela não ser suficiente, ou não vir, traz ainda mais medo.
O presidente da Agerh, Paulo Paim, teme que a vazão dos rios não se normalize. “Há o receio dessa chuva não chegar em outubro. Ano passado, por exemplo, não veio. A gente quer muito que essa situação se normalize, mas meteorologia não é matemática”, disse.
A apreensão é compartilhada pelo presidente do Fórum Capixaba de Comitês de Bacias Hidrográficas, Élio de Castro. Em entrevista à rádio CBN, ele disse que pelo menos 30 municípios passam por um momento de “crise aguda de escassez”.
“Temos cerca de dois meses para entrar no ciclo da água, mas considerando que ano passado perdemos esse ciclo e choveu muito menos que o esperado, pode ser que a situação não seja diferente este ano. Temos que começar a analisar a possibilidade de conviver com a baixa vazão dos rios”, destacou.
À beira do caos
Em Vila Pavão, um dos municípios mais afetados pela seca no Estado, a situação beira ao caos. A fonte de captação secou, a água só chega à noite nas casas e em dias alternados. Os poços artesianos são a única forma de abastecimento na cidade, mas só conseguem captar um terço de água que a população consome.
“Se não chover em outubro, a gente não sabe como vai ser. Vamos entrar em colapso”, disse o coordenador da Defesa Civil, Weverton Gueis.
O município de Linhares, que faz parte da lista dos locais em situação extremamente crítica, trabalha com a possibilidade de não chover.
Há quase mês em racionamento, a cidade busca alternativas para manter o abastecimento e não tem expectativas de que chova o suficiente para mudar o quadro de seca.
“Estamos passando por períodos atípicos, não podemos confiar que vai chover em outubro. Vamos trabalhar com o pior cenário, porque já nos decepcionamos muito com as previsões de chuva”, declarou o secretário de Desenvolvimento, Luciano Cabral.
“Tem dia que a gente abre a farmácia e não tem água nem para fazer um café. Recebemos água um dia sim e outro não, e sempre à noite. Chega umas 17h e a água acaba. Está sendo bem complicado para os comerciantes. Tivemos que restringir o banheiro para os funcionários, porque estávamos ficando sem água. Deixamos de passar pano todos os dias, agora a gente varre e reveza os dias de limpeza. Aqui na farmácia a gente ainda não tem um gasto grande com água, mas as padarias, por exemplo, estão no sufoco. Tem caso de padaria que ficou sem fazer pão porque não tinha água.”
“A gente recebe água só duas vezes por semana aqui em Marilândia. Para manter o supermercado, tive que perfurar um poço no meu terreno. A água não é muito boa, mas ajuda para lavar os banheiros e fazer serviços gerais. A gente mudou muito nossos hábitos. Estamos há mais de um mês em racionamento de água. Usamos água de bomba, até do gelo. Depois que a gente começa a economizar água, percebe o quanto desperdiçava. A situação não é fácil, mas a gente vai se virando como pode. Eu ainda tenho a água do poço, mas quem não tem, está passando dificuldade aqui na cidade.”
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